Beato Padre Victor

rogai por nós!

Anjo Tutelar de Três Pontas, MG

O padre santo, da pele negra como a minha

A Associação Padre Victor agradece ao senhor Pedro Henrique Mendonça Fernandes, que, na sua inocência de criança, interpretava o nosso Beato Padre Victor em apresentações teatrais. E, hoje, entrega a sua vida ao serviço de Deus e dos irmãos. O Beato caminhou com sua madrinha Marianna, que o ajudou a realizar o seu sonho, impossível para os homens, mas possível para Deus, de ser um padre negro. O Pedrinho, como carinhosamente o chamamos, começou os seus primeiros anos de vida cristã ao lado de sua avó Glorinha. Hoje, a exemplo do nosso amigo e intercessor, ele vive sua vocação batismal na vida da Igreja.

Com um sorriso de Deus, respondeu-nos que “estava honrado pelo convite” para escrever a sua experiência com o Beato Francisco de Paula Victor. Pedrinho o nosso Deus lhe pague!

O PADRE SANTO, DA PELE NEGRA COMO A MINHA

Foi com grande satisfação que recebi o convite para relatar minha experiência de fé com Beato Padre Victor.

Eu não saberia precisar quando começou essa relação tão feliz e tão próxima. Recordo- me, ainda criança, de ter os primeiros contatos com Padre Victor. Na casa da minha querida vó Glorinha, onde também morava com minha mãe, havia um pequeno quadro com uma moldura trançada em sisal, feita pelo meu tio Ródney, que retratava a tão conhecida imagem daquele padre negro ao lado de uma cadeira. Havia também um pequeno busto desse mesmo padre. Outra forte lembrança é do túmulo do Pe. Victor, à época ainda localizado no fundo da então Matriz Nossa Senhora D’Ajuda. Chamava-me a atenção o fato de, no alto da porta de vidro que fechava a pequena capelinha, haver duas aberturas no vidro, usadas pelas pessoas para colocar dentro da capela fotos, pertences e até mesmo doações em dinheiro, agradecendo por benefícios recebidos pela intercessão do Pe. Victor.

Tendo crescido mais um pouco, por volta de 1993 comecei a participar da equipe de leitores da Missa com as Crianças na Matriz. Todos os domingos, na missa das 9h da manhã, estávamos lá. Um grupo de crianças coordenados pela catequista e professora Alice Figueiredo, por nós chamada de D. Alice ou Tia Alice. Sempre havia um pequeno teatro, jogral ou apresentação de uma música com a mensagem do Evangelho do domingo. Ensaiávamos semanalmente, de terça a sábado. Porém o clima e o ritmo dos ensaios mudavam completamente quando chegava o mês de agosto. Era a ocasião de começar a preparar o teatro do Pe. Victor.

O grupo de catequistas – Alice, Auxiliadora e Neumman – preparou uma adaptação das biografias do Pe. Victor que existiam. Dali surgiu uma peça teatral para ser interpretada pelas crianças e para as crianças. Ali tive o meu contato mais próximo com a vida do Beato. Fui escolhido para interpretar o papel de Pe. Victor, desde sua infância até a sua morte. Dar voz às suas falas, reviver seus encontros com tantas pessoas que compartilharam e ajudaram a construir a sua vida de santidade.

Essa experiência da infância foi realmente muito profunda. A mais profunda que vivi com o beato. Não poucas vezes as pessoas me chamavam de padre Vitinho e alguns até achavam que meu nome de verdade era Vítor. Hoje, com orgulho, esse é o nome do meu filho.

Não sei precisar quantos anos foram vivendo esse personagem, que passou a ser meu amigo, meu exemplo de vida, meu intercessor. Sei que esse teatro infantil me deu meus melhores amigos: André, Felipe, Rafael e Paulo; me deu grandes mestras, Alice, Auxiliadora e Neumman,

que me abriram à vocação de catequista; isso despertou em mim potencialidades que eu não sabia que possuía, como interpretar um teatro para aquela multidão reunida na igreja nos dias 23 de setembro, a fim de anunciar a Boa Nova de Jesus.

Marcou-me muito, representando o papel de Pe. Victor, conhecer a D. Maria do Carmo, uma senhora centenária, nascida ainda escravizada, como havia sido também o beato e meus antepassados. Foi algo bastante especial. Ver uma pessoa que vivenciou todas as experiências dolorosa da escravidão e que pôde vivenciar ainda a alegria maior da libertação mexeu com a vida, mesmo ainda sendo uma criança.

Foram muitos os episódios ao longo da vida em que o testemunho de Pe. Victor me ajudou e inspirou. Assim me tornei um professor, como ele foi; luto e busco superar o preconceito racial, como ele fez; nutro um amor a Maria, como ajuda constante, como também ele o fez.

Assim, desde que formamos nossa família, Laiara e eu, com nossos filhos Letícia e Vítor, também temos em nossa casa um quadro com aquela mesma estampa do Beato Pe. Victor, recordando tudo o que ele viveu, ensina e ensinará ao povo três-pontano, por muitas gerações.

Sei que a palavra de Igreja um dia proclamará o que Pe. Victor foi em que eu sempre acreditei: um santo. Como afirma o Papa Francisco: “um santo ao pé da porta”, ou seja, uma pessoa próxima de nós, um ser humano com dores e potencialidades como nós também temos e que procurou viver na totalidade o que Jesus ensinou, como nós também devemos procurar viver.

Que o Beato Pe. Victor conceda a todos nós a graça de sermos uma página viva do Evangelho de Jesus como ele foi. E que todos nós do povo negro sejamos agentes da liberdade que Cristo nos ofereceu, como Pe. Victor o foi vencendo todo preconceito para viver sua vocação de sacerdote.

Beato Pe. Victor, primeiro padre negro do nosso Brasil, rogai por nós!

“PADRE VICTOR, TRÊS PONTAS É FELIZ, PORQUE O SENHOR PASSOU POR AQUI E FICOU!”

(Frase que marcava encerramento do teatro infantil da vida do Pe. Victor)

Pedro Henrique Mendonça Fernandes Catequista

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